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Recife, Hamburgo

Por Carlos Alberto Azevedo *

Recife e Hamburgo possuem o mesmo cheiro: cheiro de peixe frito. É um odor íntimo que vem do ventre da cidade. Contamina os transeuntes. Invade as ruas, as casas, as lojas. Quando sopra o vento Norte, o cheiro de maresia neutraliza o outro cheiro, superpõe camadas odoríficas na suposidade de Hamburgo. Água. Vapor. Ar. Maresia. A maresia domina as noites hamburguesas.

Hamburgo é o outro lado da moeda. Recife é cara. Hamburgo é coroa. Semelhanças e coincidências. Acontece. Tudo aqui acontece apenas. Às vezes, os fusos estão fora do lugar. E a gente fica à margem de duas geografias, com um pé num lugar e o outro na nossa terrinha. Ontem, às cinco horas da manhã, estava no famoso mercado de peixe, no porto de Hamburgo, e senti-me no cais do Recife – pensamentos, emoções fortes, recordações. Muitas recordações próximas e distantes: uma prostituta negra comendo acarajé no porto do Recife (em que ano foi isso?). Alguém aqui entoou uma velha canção: „Sag mir, wo die Blumen sind.“ Outro alguém, um dia, em Recife assoviou um tema musical de um filme dos anos 60 (qual foi o filme? quem era que o cantava? Doris Day?) que nunca mais saiu da minha cabeça... Em Hamburgo sonho acordado com o meu Recife.

Recife, Hamburgo-Paris, Texas. Por que Wim Wenders no meio? Um monte de coisas passa pela minha cabeça, como se fosse um filme enlouquecido ou um rio retorcido quevedescamente: correndo contra a corrente normal. Parece que estou fora do espaço e do tempo. Recordações não conhecem as categorias de espaço e tempo.

Recife, Hamburgo têm muitas semelhanças. São planas, cortadas por rios, com muitas pontes. Ah, como são belos os rios do poeta João Cabral de Melo Neto! E o Alster? O Alster, filho adotivo do poeta Helmut Heissen-büttel: „Sobre o plano imóvel do rio Alster estão as bandeiras brancas da noite. / Debaixo das árvores caminham as sombras. / Sou eu.“


* Der brasilianische Schriftsteller und Publizist hat eine Reihe von Jahren in Berlin und Hamburg gelebt. In Hamburg schrieb er den 1996 erschienenen Roman «Os Herdeiros do Medo», der die Geschichte des berühmten luso-brasilianischen Theaterschriftstellers António José da Silva, genannt «O Judeu», erzählt, der noch 1740 auf dem Scheiterhaufen endete.

Den vorliegenden Text entnahmen wir dem 1994 erschienenen Büchlein «Hamburgo Blues», eine anrührende Liebeserklärung des brasilianischen Schriftstellers an die Elbestadt.






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Portugal-Post Nr. 10 / 2000