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ESSA NOSSA DITOSA LÍNGUA XVI
Fala algarvio?
Sprechen Sie Algarvio?

Peter Koj

Com esta pergunta algo surpreendente não queremos fazer entender que o algarvio seja uma língua própria tal como o galego (falado no Minho e em Trás-os-Montes perto da “raia” espanhola) ou o mirandês (que se fala na região de Miranda do Douro). Mas distingue-se nitidamente do português beirão ou minhoto. É, antes de mais nada, uma questão de pronúncia. Entender um algarvio que fala “às bandeiras desfraldadas” é um osso duro de roer, não só para um estrangeiro com bons conhecimentos de português, mas também para portugueses vindos de outras regiões do País.

Os algarvios gostam de falar muito e rapidamente. Por isso “algarvio” é também uma designação para uma pessoa tagarela ou palradora. Quando se pede,  para melhor entendimento, a um algarvio para falar mais devagarinho, ele, com certeza, falará mais alto, mas sem minimamemte abrandar o seu fluxo palavroso. Além disso, tem tendência para “comer as sílabas” (pior ainda do que os lisboetas!). E como se isso não bastasse, dá outros valores fonéticos às vogais, p.e. o “a” soa mais como um “o” e o “u” mais como “ü” (tal como nos Açores), sobretudo no Barlavento (Vila do Bispo e arredores)

Enquanto o sotaque algarvio põe à prova dura a compreensão auditiva de muitas pessoas, a própria estrutura linguística não apresenta grandes empecilhos. É só de assinalar a preferência do gerúndio ao infinitivo com os verbos “estar”, “ficar”, “ir” e “vir” (“estou fazendo” em vez de “estou a fazer”). Mas este fenómeno é também conhecido da Madeira e do Brasil. De lá, aliás, vai-se infiltrando, através das telenovelas, cada vez mais também no resto do País (este tema já foi tratado no No.XI desta série, quando nos debruçámos sobre o português brasileiro; ver “Correio luso-hanseático” Nº 10, pp.19-22).

Onde se pode falar com mais justiça dum dialecto algarvio é no campo do vocabulário. Existe até um “dicionário do falar algarvio”. Foi publicado em 1988 pela “Edição Região de Turismo do Algarve” e é da autoria Eduardo Brazão Gonçalves. Muitas das palavras e expressões aí compiladas não são usadas exclusivamente no Algarve, mas também em outras regiões, sobretudo no vizinho Alentejo. Nos grandes dicionários da língua portuguesa, estas expressões são classificadas como “provincianismos”, termo algo polémico e que nem sempre corresponde à realidade histórica. A título de exemplo, Eduardo Brazão Gonçalves cita a palavra “cangrejo”. Esta forma é mais “erudita” do que o “caranguejo”do português corrente ou,  pior ainda,  do lisboeta “carangajo”, pois vem do latim “cancriculu” através do espanhol “cangrejo”e foi ainda usada por Camões.

Falar em dialecto ou provincianismo é, afinal de contas, uma questão de perspectiva, como mostra a anedota contado pelo autor no seu livro na pág. 64: “...quando em Olhão perguntaram muito lisboetamente a um pescador o preço dos carangájos, este desatou a rir dizendo para o vizinho: – Móce (=pá)! Mane Manél!... O gajo nem sabe dizer cangrejo, mã (=homem)!”

Como o livro de Eduardo Brazão Gonçalves já não está acessível, citaremos, em seguida, algumas expressões para guiar os nossos leitores que tencionam passar férias no Algarve ou aí são residentes. Mas não se queixem se os seus novos conhecimentos não derem resultado: o uso de certas expressões varia de região para região, de vila ou cidade para vila. Uma palavra corrente em Lagos talvez já não se entenda em Albufeira ou Faro.

 

abalar – partir – abreisen

abéspra
– vespa – Wespe

açoteia/soteia
– terraço sobre a casa – Dachterrasse

agença
– sustento, alimento – (Lebens)unterhalt, Nahrung

água de pedra – granizo – Hagel

ãibra – fome – Hunger

albricoque/almecoque – alperce – Aprikose

alclara – lacrau – Skorpion

arjamolho – gaspacho – leichte Gemüsesuppe (kalt)

arranjar a bonita – fazer a boa – Streit anzetteln

arrieiro – vendedor de peixe de porta em porta – fliegender Fischhändler

bafum – mau cheiro – Gestank

baja/vagem – feijão verde – grüne Bohne

barba – queixo – Kinn

barlavento – parte ocidental do Algarve – Westalgarve

barrocal – algarv. Zone zwischen Küste und Gebirge

bàtizo – baptismo – Taufe

bergão – berbigão – Herzmuschel

borra – coisa (sem valor), porcaria – Ding, Dreck

botar – pôr, lançar – wegtun, hinstellen

briba/bibra – víbora – Schlange, böse Frau

buer – beber – trinken

cação (em~) – nu, despido – nackt, ausgezogen

caga-lumes/luzincu – pirilampo – Glühwürmchen

calma – (hora de) calor – (Mittags)Hitze

ceterna – cisterna – Brunnen

cherume – suco – Saft

cloques/galochas – socos, tamancos –Holzpantoffeln

compadre – amigo – Freund, Kumpel

condelipa1 – conquilha – (kl. Muschelart)

deslaiado – desanimado – mutlos

desna – desde – seit

dispor – plantar – pflanzen (Gemüse)

empar – direcção – Richtung

encalitro – eucalipto – Eukaliptus

engeroca/engonha – coisa mal feita – “Schrott”

escaparate – armário para loiça – Geschirrschrank

estambo/estomo – estômago – Magen

facho – má figura – schlechtes Ausehen (Kleidung)

família/pessoal – gente, pessoas – Leute, Menschen

folga – sesta – Siesta, Mittagsschläfchen

fugir – correr – rennen, laufen

gazil – elegante, airoso – schlank, hübsch

girandoila – gravata – Krawatte

grave – elegante, fino – fein, elegant

grepe – roubo – Raub

grisa – fome – Hunger

inté – até – bis

jogar – lançar, atirar, deitar fora – (weg)werfen, schleudern

lavajar – sujar, emporcalhar – beschmutzen, verdrecken

lintejo – Alentejo

losna – osga – Gecko          

magana – finória, velhaca, meretriz – durchtriebenes Weibstück, Hure

mal embarda/o – (muito) doente – (sehr) krank

maltês – desordeiro, mal comportado – liederlich, ohne Manieren

mano – irmão, amigo – Bruder, Freund

manteiga – banha, gordura de porco – (Schweine)Schmalz

manteiga de vaca (de loja) – manteiga – Butter

mo!/móce! (< moço = rapaz/menino) – pá! – 
eh!, Mann!

mod’quém?/por monde quê?  – porquê? – warum?

nãiques!/nanques! – pois não! – prima! klar!

nhora? (<senhora) – faz favor? como? – wie bitte?

ontepassado – o ano passado – letztes Jahr

porradão – grande quantidade; pancada – große Menge; Prügel

portal – degrau – Treppenstufe

prozar – medrar – gut gedeihen

rijo (de ~) – em voz alta, com força – laut, kräftig

(boa) roupa – boa qualidade (pessoas, coisas) – von guter Qualität (Menschen, Dinge)

saibo – sabor – Geschmack

sastefeito – satisfeito – satt, zufrieden

sotavento – parte oriental do Algarve – Ostalgarve

talefe – marco geodésico –  geografischer Vermessungspunkt

trela (andar à ~) – espreitar – Ausschau halten

tulha – depósito para guardar fios ou amêndoas – Feigen-, Mandeldepot

unde(s)pôs – há pouco tempo – vor kurzem

uso (à ~) – à balda, sem cuidado – aufs geratewohl

vagem – ver/siehe baja

verru(s)ga – ruga – Hautfalte

vá-de-viró! – vira o barco! – Boot wenden!

zorra – raposa – Fuchs



Mit dieser etwas überraschenden Frage wollen wir keineswegs unterstellen, dass das „Algarvio“ eine eigene Sprache ist ähnlich wie das Galizische (das man im Minho und Trás-os-Montes in der Nähe der spanischen Grenze spricht) oder das Mirandês (das in der Gegend von Miranda do Douro gesprochen wird). Aber es unterscheidet sich deutlich vom Portugiesischen der Beiras oder des Minho. Es ist vor allem eine Frage der Aussprache. Einen Bewohner des Algarve zu verstehen, der so richtig loslegt, ist ein harter Brocken, nicht nur für einen Ausländer mit guten Portugiesischkenntnissen, sondern selbst für Portugiesen, die aus anderen Regionen kommen.

 Die algarvios, die Bewohner des Algarve, reden viel und schnell. Deswegen ist „algarvio auch eine Bezeichnung für eine geschwätzige Person. Wenn man einen algarvio bittet, etwas langsamer zu sprechen, damit man ihn besser versteht, wird er sicherlich lauter sprechen, aber ohne seinen Redeschwall im geringsten abzubremsen. Außerdem hat er die Tendenz, Silben zu verschlucken (schlimmer noch als die Lissabonner!). Und als wenn das noch genug wäre, gibt er den Vokalen einen anderen Klangwert; z.B. klingt das „a“ wie ein „o“ und das „u“ wie ein „ü“ (ähnlich wie auf den Azoren), vor allem im Barlavento, dem westlichen Ende des Algarve (Vila do Bispo und Umgebung).

 Während der „Algarvio“-Akzent das Hörverstehen vieler Leute auf eine harte Probe stellt, weist die sprachliche Struktur selbst keine großen Hindernisse auf. Da wäre nur der Vorzug des Gerundiums gegenüber dem Infinitiv nach Verben wie estar, ficar, ir und vir (estou fazendo statt estou a fazer). Doch dieses Phänomen finden wir auch auf Madeira und in Brasilien. Von dort dringt es durch die telenovelas, die brasilianischen soaps, allmählich auch in das restliche Portugal vor (dieses Thema wurde bereits in der 11. Folge dieser Reihe behandelt, als es um das brasilianische Portugiesisch ging; siehe Portugal-Post 10, S.19-22).

 Am ehesten lässt sich beim  Wortschatz von einem Dialekt des Algarve sprechen. Es gibt sogar ein „Wörterbuch der Sprache des Algarve“. Es wurde 1988 vom Verlag der Tourismusregion Algarve veröffentlicht und stammt von Eduardo Brazão Gonçalves. Viele der hier zusammengetragenen Begriffe und Wendungen werden nicht ausschließlich im Algarve gebraucht, sondern auch in anderen Regionen, vor allem im benachbarten Alentejo. In den großen portugiesischen Nachschlagewerken werden diese als „Provinzialismen“ geführt, wein etwas polemischer Ausdruck, der nicht immer der (sprach)geschichtlichen Wirklichkeit entspricht. Als Beispiel zitiert Eduardo Brazão Gonçalves das Wort cangrejo (=Taschenkrebs). Diese Form ist „gelehrter“ als das caranguejo des offiziellen Portugiesischen oder, noch schlimmer, des Lissabonner carangajo, denn es kommt vom Lateinischen cancriculu über das Spanische cangrejo und wurde so noch von Camões gebraucht.     

 Von „Dialekt“ oder „Provinzialismus“ zu sprechen ist letztlich eine Frage der Perspektive, wie die Anekdote zeigt, die der Autor auf S.64 seine Nachschlagewerks erzählt: „... als jemand einen Fischer in Olhão ganz auf Lissabonner Art nach dem Preis con carangájos fragte, brach dieser in schallendes Gelächter aus und sagte zu seinem Nachbarn: – Eh, Mann! Freund Manuel! ... Der Typ kann nicht mal cangrejo sagen, Mann!“

 Da das Buch von Eduardo Brazão Gonçalves nicht mehr erhältlich ist, haben wir ein paar Ausdrücke für unsere Leser zusammengestellt, die beabsichtigen Ferien im Algarve zu verbringen, bzw. dort ansässig sind. Aber bitte keine Beschwerden, wenn Sie Ihre neuen Kenntnisse nicht anbringen können: der Gebrauch bestimmter Ausdrücke wechselt von Region zu Region und von Ort zu Ort. Ein Wort, das in Lagos geläufig ist, versteht man vielleicht schon in Albufeira oder Faro nicht mehr.


1 Nome derivado do conde de Lipa?
Angeblich nach dem Grafen von Lippe




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Portugal-Post Nr. 16 / 2001