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ESSA NOSSA DITOSA LÍNGUA XIX
Cores de Portugal (2ª parte)

Por Peter Koj

Finalmente temos oportunidade de continuar a nossa digressão pelas "cores de Portugal". Somente fazemos votos para que as cores apresentadas no número 20 do nosso "Correio Luso-Hanseático" (preto, branco, amarelo e azul) entretanto não tenham ficado desbotadas. Pelo menos não pode ser o caso do azul, pois os "sacos azuis", desde então, têm sido constantemente manchete, sobretudo no caso da Câmara de Felgueiras. Hoje vamos logo começar a falar das duas cores que, mais de qualquer outra, se relacionam com Portugal: o vermelho e o verde. São, desde 1910, as cores da bandeira portuguesa, com o vermelho a ocupar três quintos do espaço e o verde os restantes dois (sem contar o brazão e as esferas armilares, claro). O vermelho, aliás, já foi cor da bandeira desde o reino de D. Afonso III (1248-1279) quando servia de borda. Essa borda desapareceu com a ascensão ao trono de D. Manuel I em 1495, estabelecendo-se mais tarde o branco e o azul definitivamente como cores monárquicas. Em 1910, com a implantação da República, foram substituídas pelas cores da revolução republicana, vermelho e verde. Salazar manteve e venerou estas cores que, apesar de comprometidas pela ligação à ditadura salazarista, ninguém pensou em abolir no decorrer da "Revolução dos cravos" em Abril de1974. Tão revolucionária foi a força inerente a essas duas cores que até foram consideradas as "cores da liberdade". Cite-se só a famosa "Cantiga de Abril" do grande poeta Jorge de Sena, onde se pergunta:

"Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha."

Verde
Não é de estranhar que Jorge de Sena nomeie como cor da liberdade em primeiro lugar o verde (apesar de ele ocupar só dois quintos da bandeira), pois este tem conotações maioritariamente positivas. É algo que tem seiva, que tem pouca idade ("verdes anos" = juventude), que é fresco e não foi tratado ou salgado ou só há pouco tempo (p.ex. "carne verde", "presunto verde", "bacalhau verde"), que é coberto de relva, plantas, árvores (p. ex. "cintura verde", "espaço verde"). Assim o famoso "vinho verde" não é - como o querem fazer crer alguns jornalistas alemães mal informados - de cor verde, mas sim tinto ou branco, consoante o caso, enquanto à designação "verde" se refere ao facto de as uvas serem colhidas antes da maturação.

Depois há vários tons de verde como p.ex. "verde-alface", "verde-azeitona", "verde-ervilha", "verde-garrafa" e o "verde-gaio", que é um verde claro, mas também uma expressão introduzida em 1940 pelo então Secretário da Propaganda Nacional, António Ferro, para designar um determinado tipo de bailado com características populares. E não esqueçamos o "verde-e-branco", que é o Sporting Clube de Lisboa! Falando de futebol, fomos informados em Janeiro deste ano que Eusébio, a "Pantera Negra", passa "recibo verde", quer dizer que já não recebe um ordenado regular pelos seus serviços de "embaixador" do Benfica mas só honorários pelos seus serviços como colaborador independente. "Verde" como sinal de trânsito significa em Portugal, como em qualquer outro país do mundo, livre passagem dando assim origem a expressões como "ter luz verde", quer dizer "ser autorizado" ou dar "sinal verde", quer dizer "deixar passar ou avançar". A "via verde", nas auto-estradas de Portugal, permite livre passagem nas portagens a quem tem no pára-brisas um selo que está ligado ao sistema de cartão multibanco.

Curiosa é a expressão "há, mas são verdes!" ou simplesmente "estão verdes" que se dirige a alguém que desdenha de alguma coisa que não pode obter (como a tal raposa na fábula de La Fontaine) ou que se usa para dizer a alguém que não reúne condições para obter o que quer. E quando alguém "põe (o) pé em ramo verde", aventura-se em terreno pouco seguro o desconhecido.

Vermelho/encarnado
Estamos perante mais um caso, onde em português temos (pelo menos) duas designações para uma cor que, em alemão, só tem uma ("rot"). Quando cheguei a Portugal pela primeira vez e perguntei pela diferença, a resposta foi sempre: "os vermelhos são os comunistas e os encarnados são os do Benfica". O "Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea" do prof. Malaca Casteleiro, fonte inesgotável quando se trata de tirar dúvidas destas, não vai muito além da explicação fornecida pelos populares. Segundo ele, trata-se, nos dois casos, da "cor de sangue". Mas enquanto, no caso do "encarnado", apenas se acrescenta que é a "cor da carne viva" (o que não é grande novidade, pois a própria palavra "encarnada" vem de "carne"), no caso do "vermelho" (que, aliás, vem do latim "vermiculus", um pequeno verme do qual se extrai o carmim), o dicionário recorre a várias especificações: "cor da papoila, do rubi" e mais tecnicamente: "cor primária, que se situa numa das extremidades do espectro solar e que é complementar do verde". Tudo isso nos leva a crer que "vermelho" e "encarnado" não são totalmente sinónimos sendo "encarnado" um "vermelho" mais escuro.

Também ao nível linguístico, o "vermelho" dá mais que falar do que o "encarnado". No último caso, o dicionário traz como única conotação a do Benfica. "Vermelho", porém, usa-se em várias acepções correntes internacionalmente, como "cruz vermelha", "cartão vermelho", "lanterna vermelha" (= último lugar numa competição), "planeta vermelho" (=Marte), "sinal vermelho", "linha vermelha" (= usada directamente entre governos para assuntos importantes ou urgentes) ou relacionadas com o esquerdo-socialismo ou comunismo ("bandeira vermelha", "exército vermelho", "perigo vermelho"). Tipicamente português devem ser os termos "naipes vermelhos" (os de ouro e copas, ao contrário dos "naipes pretos" que são os de paus e espadas) e "cortiça vermelha" (tem muito barro desta coloração nos poros). Finalmente em Portugal fica-se, tal como na Alemanha, em casos de grande esforço físico ou por exposição solar prolongada, "vermelho que nem um tomate". Mas servindo-se de produtos mais tipicamente portugueses pode ficar-se também "vermelho que nem um pimentão" ou "vermelho que nem uma lagosta".

Podíamos debruçarmo-nos sobre outros tons do "vermelho/encarnado", desde o "rosado" ou "cor-de-rosa", passando pelo "cor-de-laranja" até ao "carmim/carmesim", o "roxo" e o "rubro", sendo alguns de certa importância para a mentalidade e a língua portuguesas, p. ex. "o mapa cor-de-rosa" e o "ballet cor-de-rosa", os "laranjas" (antigos autocarros de Lisboa, mas também os aderentes do PSD), as "batatas roxas", o "roxo" (pop. para vinho tinto) e finalmente o "rubro" que designa o ponto mais alto do entusiasmo. E para que o leitor não fique vermelho (por excesso físico), nem roxo (por asfixia) ou rubro (por um entusiasmo excessivo) fechamos este capítulo das "Cores de Portugal", oxalá "com chave de ouro", que - como dizia o meu professor de arte - não é cor nenhuma.





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Portugal-Post Nr. 23 / 2003


Die Parabel von den "Sacos Azuis"
(Karikatur von António aus dem "Expresso")