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A febre das bandeiras e o novo patriotismo

Por Peter Koj

Até ao Euro 2004, a bandeira nacional tem tido uma existência bastante apagada. Introduzida apenas com a Implantação da República (1910) e durante mais de 40 anos explorada pelos fins nacionalistas do Estado Novo, nunca se encontrou muito perto do coração dos portugueses. Isso andava a par e par com uma certa reticência ou até vergonha de muitos portugueses que, em vez de patentear orgulho na sua pátria, têm dado sinais de um certo complexo de inferioridade. Atitude, aliás, que contrasta simpaticamente com a de muitos outros povos do nosso continente, onde um nacionalismo exacerbado tem conduzido a muita miséria.

Bernardo Teotónio Pereira, um jovem estudante de Lisboa pôs, ao que parece, um ponto final às hesitações e ao acanhamento dos portugueses. Um pouco antes da abertura do Euro, mais exactamente a 13 de Maio, escreveu uma carta a Marcelo Rebelo de Sousa pedindo-lhe que, na sua emissão dominical na TVI, transmitisse ao país uma ideia e um apelo. O Euro-2004 seria um bom pretexto para que "todos começássemos a sentir orgulho de sermos portugueses". A maneira de o fazer seria aderir à campanha que Bernardo baptizara de "Bandeira Nacional: por cada casa uma bandeira".

Rebelo de Sousa, político polémico e populista, gostou, divulgou e... o País aderiu. Até personalidades tão comedidas como o próprio Presidente da República recomendaram. E quando os grandes centros comerciais pegaram na ideia e ofereceram bandeiras ao desbarato, todo o País mergulhou num mar de vermelho e verde, mais vermelho do que verde (sobre este fenómeno veja o nosso artigo "Cores de Portugal" no "Correio Luso-Hanseático" 23, p. 27). Por este Portugal fora, encontravam-se enfeitadas fachadas, varandas e janelas (o slogan tinha, entretanto, mudado para "uma janela, uma bandeira"). Mas a "bandeirite" ainda aumentou quando um emigrante luso da África do Sul lançou a ideia de colocar bandeiras nos automóveis. Primeiro os taxistas, e depois muitos particulares aceitaram-na, aumentando assim substancialmente o ambiente de frenesim e êxtase.

Claro que a febre das bandeiras se propagou até às comunidades lusas no estrangeiro. E Hamburgo não foi nenhuma excepção: muitas bandeiras nos bairros com grande concentração de residentes portugueses, nos restaurantes, mercearias e cafés lusos, que abundam na cidade hanseática. A nossa associação não quis ficar de pé atrás, e assim pendurámos na janela do nosso escritório na Susettestraße uma bandeira nacional de pequenas dimensões, uma oferta grátis do jornal "Público".

Nem todos gostaram deste surto de patriotismo. O jornalista e escritor Miguel Sousa Tavares fala numa "histeria patriótica de que nem nos tempos áureos do salazarismo há notícia" (Público, 18-6-04). Recusa-se a chamar, como foi sugerido, ao Figo, ao Scolari e afins "heróis do patriotismo moderno". Os verdadeiros heróis para ele são portugueses como "o Saramago, o Siza, o Damásio, a Maria João Pires, ... o Mário Soares." E com ele, outros intelectuais, como Clara Ferreira Alves, directora da Casa de Pessoa e Inês Pedrosa, a jovem escritora, se sentem incomodados com a "americanização" patente nesse patriotismo balofo. Expressão dessa atitude crítica é o cartoon de Luís Afonso, também publicado no "Público" (16-6-04). Lá um "patriota" declarado, de bandeira em riste, recusa-se de levar o seu patriotismo até ao ponto de pagar os impostos e de respeitar as regras de trânsito: é patriota mas não parvo!

Seja como for, Portugal pode orgulhar-se de ter organizado o melhor campeonato de futebol europeu de sempre. Os portugueses mostraram-se anfitriões perfeitos: acolhedores, pouco fanáticos. Deixaram muitos dos visitantes com saudades. Assim sei de fonte segura que os jornalistas do NDR (emissora com sede em Hamburgo) ficaram tão favoravelmente impressionados que, no regresso, juraram passar as suas próximas férias em Portugal. E os portugueses consolem-se com o facto de não ter ganho o final. Para mim, é até sinal de fineza de um "perfect host" não ficar com o troféu tão cobiçado, mas deixá-lo a uma equipa que até agora não tinha conquistado nada.






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Portugal-Post Nr. 27 / 2004


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