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A «Outra» Companheira

Por Luís Carvalho *

Não estou cansado
nem medroso
ou suando
só porque vivo,
recordando
a «outra» que amei.
Não!
Nem ortigas nem cardos
nem Outra nem nada!
Hoje, tomo-te como uma sombra o mesmo é dizer:
que te perdi para sempre.
Não houve pancada nem empurrões
de nenhuma espécie
e nem sequer humilhações.
Simplesmente, houve esquecimento.

Se me perguntas:
que fazes tu, Luís
ou que tens feito, até agora?

Confesso que responderei:
Creio que nada.
Melhor dizendo: não se passou nada.
Não obstante, vou vivendo.
Sinto os ossos quase em cinzas.
Há olhares despercebidos.
Púpilas como as rochas marítimas
da «Ilha Negra» no Chile,
onde jaz morto e enterrado
Pablo Neruda.
Embevecido com os seus poemas
repletos de penas
quando os meus
falam de «albarrotes y licores».
Não me liberto, delas
as penas.
Creio que jamais.
E de tantas broncas
navego no esquecimento.
Pretendo não te ouvir.
Simplesmente, não te ouvir.
Será a sombra culpada
do que se está passando?
Testemunhas nada,
mesmo depois de morreres
para quê?
Nem caga-lumes nem borboletas.A minha consciência
oprime-me, movimenta-me
e liberta-me.
Propões-me uma alimentação
de espantos, de ferrugem
e de aguardente.

Caminhar acompanhando na Ahumada
não resulta
pois não dá nada.
E desta imensa bebedeira
velhice terceiromundista
de pedra, pau e cal
que vou eu construir?
De mau a pior –
– vivo, simplesmente esquecido.
Falámos de tudo ou quase, digo eu.
O coração, não tem mãos.
Sinto-me parvo, se pergunto:
quando me abraças?
Recomendas muito amor como se tivesse sido
um enfermo, necessitando medicamentos.
Durante certo e determinado
tempo, meu modo de viver
foste tu, somente tu.
Tu, e mais ninguém.
Tu!

Uma permanente corrupção
na minha vivência diária.
Como não deste garantia
à palavra, dada na cama,
eu me sinto livre
e esquecido
para sempre,
eternamente.


* Luís Pereira Carvalho, Journalist und Publizist, lebt seit September 1965 in Hamburg. Er hatte sich aus politischen Gründen an die Elbe geflüchtet, da er für die FPLN im Untergrund für ein freies und demokratisches Portugal kämpfte. Noch am 24.8. 1972 erließ die PIDE einen Haftbefehl gegen ihn. Nach dem 25 de Abril engagierte er sich für die unterdrückten Völker Lateinamerikas. Er ist Begründer des Goldbekhauses (Moorfurthweg 9) und veranstaltet hier im Rahmen des Interkulturellen Forums Länderabende zum Thema Südamerika, auch ist er im Hamburger Vorstand des VS.

Samstags von 10-12 moderiert er die portugiesischspra-chige Sendung „Café com leite e pimenta“ (UKW 93.0)

Das vorliegende Gedicht ist ein unveröffentlichtes Original, zumindest in der portugiesischen Fassung. Die urprüngliche Version ist auf spanisch und entstand im Januar 1997 nach der Lektüre des Gedichtes «Mi Compañera» des uruguaianischen Dichters Alberto Carrera.






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Portugal-Post Nr. 8 / 1999


Luís Pereira Carvalho