Unser PHG Mitglied Angelina Ribeiro Wersch hat die portugiesische Jazzsängerin, Rita Maria, zu einem Interview bei NDR-Kultur begleitet und selbst ein eigenes Interview mit ihr in Portugiesisch geführt, welches hier im Anschluss wiedergeben wird. Sie finded es ist sehr interessant und spannend den Bogen über ihre Biographie als Sängerin aber auch ihre Perspektive auf Ihre Musik und die Einflüsse zu spannen. Auch die Frage nach Positionierung des Fado und deren neue Interpretationen spielen eine Rolle. In unserer neuesten Portugal-Post No.67 findet sich ein Artikel mit Ausschnitten aus diesem Interview mit Rita Maria. Hier kommt die NDR Kultur Sendung mit Rundfunk-Interview zum : Hören Sie mal rein
Foto: Angelina Ribeiro Wersch mit Rita Maria beim NDR
Die portugiesische Jazzsängerin Rita Maria im Interview
Am 2. November 2019 trat die portugiesische Jazzsängerin Rita Maria (Lissabon) gemeinsam mit dem Chor St. Johannis - Harvestehude mit Duke Ellingtons Sacred Concert in Hamburg vor ausverkauftem Haus auf. Bereits 2016 gastierte Rita Maria mit dem bekannten Jazzpianisten Mário Laginha in der Fabrik und verfügt mittlerweile über eine große Fangemeinde in Hamburg. Die Begeisterung des Chores für die junge und talentierte Sängerin entflammte bereits 2014 bei einem gemeinsamen Konzert der ca. 80 Hamburger Sängerinnen und Sänger mit der Bigband des Hot Jazz Clubs und der Solistin Rita Maria in Lissabon, das im Rahmen einer Chorreise stattfand. (vgl. Info-Post 13 vom Februar 2015 und https://www.youtube.com/watch?v=QxcOBAplAj8)
Unser PHG-Mitglied Angelina Ribeiro von Wersch, selbst Mitglied des Harvestehuder Chores, interviewte Rita Maria nach ihrem Live-interview bei NDR Kultur. Hier der Text in portugiesischer Sprache:
Angelina: Tu nasceste perto de Lisboa, estudaste canto em Portugal e nos Estados Unidos e trabalhaste como professora universitária na Faculdade de Música no Equador e na Índia. Podes contar um pouco sobre a tua carreira de cantora? Como surgiu seguires este caminho também como intérprete e cantora de jazz?
Rita: Sempre quis ser cantora. Estudei canto lírico no conservatório e com 14 anos entrei ao mesmo tempo na escola de jazz do Barreiro que é a minha cidade berça fora de ter nascido em Lisboa. Sempre senti uma liberdade e uma empatia muito grande na música de jazz, que não sentia nessa altura com a música tradicional portuguesa. Eu abracei o jazz como a minha cultura. Nunca deixei de conhecer novas culturas musicais, sempre senti que uma das minhas grandes mais-valias é esse fascínio pela cultura dos outros e conseguir buscar essas referências e essas ferramentas para me tornar num melhor ser humano. Oxalá que isso também reflita como eu interpreto a música. Abraçar as culturas do mundo e abraçar a música que é uma parte tão substancial da cultura do mundo e integrar nisso no que faço.
Angelina: Tu cresceste num país pequeno à beira da Europa plantado, um país que tem uma riqueza de influências musicais (também das ex-colónias como o Brasil, África e Ásia). Quais foram e são as influências que sentes na tua música? Quais são as inspirações para ti pessoalmente, a tua música, os teus projetos?
Rita: A música clássica, a música hindu que hoje em dia é uma fonte de inspiração aonde eu posso beber muita coisa e mesmo dentro da música mais contemporânea. Depois a música brasileira é uma influência muito grande na minha vida. Tenho muita afinidade com essa cultura. Mais tarde comecei a apaixonar-me mais pela música do oriente especialmente a música asiática, a música de origem Hindu. A música folclórica apareceu um pouco mais tarde na minha vida e acho que foi uma grande descoberta também. Apercebi-me disso quando vivi nos Estados Unidos e que as referências que tinha de música portuguesa especificamente eram muito pequenas. Senti que um lado de mim que não estava completo enquanto eu não fosse aprofundar esse conhecimento sobre o que me faz quem eu sou. E quando as pessoas me pediam referências perguntavam “o que se ouve em Portugal” “qual é a música de Portugal” “quem são os canto-autores, quais são os compositores de que tu gostas”? Eu percebi que tinha muitos poucos nomes para dar.
De referência tinha alguns que ainda continuam a ser referência para mim – o Fausto, o Mário Branco, o Sérgio Godinho, o Carlos Paredes, a Amália Rodrigues etc. mas ainda assim achava que o meu conhecimento da música tradicional portuguesa ou digamos musica de cariz português, que saíam daquele pedaço de terra não era assim tão grande e que eu precisava de combater esta minha ignorância que me também fazia sentir menos completa como músico.
Quando voltei para Portugal fui viver em Alfama. Achei que era uma forma de eu sentir mais o espírito do bairro, perceber as ligações da comunidade. A música que estava dentro do bairro, a forma como a música se manifestava dentro do bairro, ouvia fado dentro da minha janela porque os cantores de fado também cantam na rua e ouvia o fado mesmo com janelas fechadas. Isso foi muito importante para mim. Foi nessa altura que me convidaram de integrar um projeto de música folclórica portuguesa e sueca que se chama “Estocolmo-Lisboa-Project”. Isso foi o motor para eu emergir muito mais profundamente nessas raízes, ir procurar mais referências no cancioneiro popular, nas recolhas que se fizeram e cantar fado porque até aí nunca tinha cantado fado porque senti que não tinha a legitimidade para cantar fado porque sempre tinha ignorado esta parte. Portanto isto era uma coisa que mexia muito comigo. E de facto quando comecei a cantar fado senti-me mais completa. Não só no fado porque há mais manifestações folclóricas que me interessam, mas digamos o fado foi a janela.
Angelina: Madredeus nos anos 90, Mísia, Cristina Branco, Ana Moura, Mariza, António Zambujo, Carminho, só para mencionar alguns que passaram aqui por Hamburgo. Ultimamente também com concertos na Elbphilharmonie de Hamburgo com mais de 2000 pessoas no auditório. O “Fado Novo” com novas interpretações do fado tradicional tem cada vez mais fãs também na nova geração. O que achas deste desenvolvimento?
Rita: Acho que são, em primeiro lugar, questões que se prendem com a tradição. A tradição, se não for renovada e se não for reapropriada, perde a sua vida, perde a sua energia e acaba por definhar. Aquilo que eu sinto mesmo que haja muitos detratores desta nova vaga, deste novo fado, é como sempre: haverá sempre detratores daquilo que é novo, haverá sempre a ala mais conservadora dentro da música mais tradicional e a ala mais progressista. E eu tendo mais para a ala progressista e acho que não tem a ver com a idade, mas com a questão de mentalidade, da forma de estar.
Sinto que a fusão é o caminho para que o fado continue vivo. E isso já é uma expressão de atualidade portuguesa, dos jovens portugueses, de forma como a sociedade, entretanto evoluiu, abraçando também aquilo que entretanto foi entrando dentro da cultura do país.
Se há muito tempo estamos à beira-mar plantado e não tínhamos qualquer possibilidade de olhar para fora – vivemos uma ditadura até 1974 que ainda influencia muito o estar dos portugueses apesar de as pessoas não terem esta consciência – o momento em que se abrem as fronteiras para poder conhecer o resto do mundo é necessariamente uma altura de transição e transformação que vai ter impacto anos e anos mais tarde. E conseguir fazer a assimilação disso eu acho que o fado começa finalmente sofrer essas influências dessa abertura para o resto do mundo e da cultura do resto do mundo. E isto faz que o fado efetivamente esteja vivo. E é aqui que me revejo ao nível do fado. E acho que sim que continua a representar a cultura portuguesa, e é por isso mesmo, porque evoluiu, porque se misturou, porque se abriu aos outros, não se manteve fechado por si próprio.
Angelina: Jazz em Portugal: Para mim pessoalmente o sound de Lisboa é jazz. Quando o meu coro, em 2014 atuou em Lisboa contigo e os maravilhosos músicos da Orquestra do Hot Jazz Clube de Portugal, optámos por uma peça de Duke Ellington em vez de Brahms e Bach. Qual é a tua perspetiva e a tua sensação quanto ao movimento de jazz em Portugal e também fora do país?
A minha perspetiva sobre jazz em Portugal é que estamos numa fase de vitalidade de desenvolvimento pleno. Acho que ainda estamos numa fase crescente, há sempre mais jovens optar por estudar jazz e veem na carreira de jazz uma oportunidade para o seu futuro. Isto era impensável há 20 anos atrás. Havia muito poucas pessoas que tomavam essa decisão porque de facto era uma decisão muito determinante e não seria um caminho fácil certamente. Hoje em dia já é uma possibilidade de profissão ser músico de jazz, cantora de jazz. Isto é um sinónimo que há muita evolução. Temos escolas profissionais de jazz e essa evolução, tem tido resultados maravilhosos para a própria cultura da juventude como também a cultura do público. Temos cada vez mais público a assistir aos festivais, há cada vez mais festivais de jazz e cada vez mais público consciente e conhecedor daquilo que está a ouvir. Já não é só um fenómeno de surpresa e novidade, mas já um fenómeno de manifestação de gosto específico por este tipo de música. E acho que ainda tem para crescer ainda mais para ser uma forma emergente de cultura que sirva de referência também internacional. Já começa a ser uma referência internacional e acho que ainda vai ser mais.
Angelina: Tu também fazes parte da cena internacional, tu atuas fora em vários países da Europa. Acho que é bom sinal os músicos de jazz portugueses saírem fora e fazerem projetos com músicos de outros países.
Obviamente. Eu comecei a fazer a universidade no Porto, uma cidade maravilhosa, adorei a cultura da gente do Norte que é muito diferente da cultura da gente do Sul, principalmente da cultura da capital, que é sempre uma coisa mais difusa e menos pessoal. Senti-me muito abraçada e muito bem recebida naquele ambiente, continuo a ter laços muito fortes com as pessoas do Norte. E depois de me sentir muito confortável a que decidi ir para fora. E quando fui para fora foi tudo novo e claramente que isso significa que há conquistas a serem feitas. É preciso muita energia e muito esforço para seguir em frente. Mas também tive a oportunidade de conhecer uma rede mais internacional de músicos de todo o lado do mundo na qual eu me senti integrada. E penso que todos nós funcionamos como uma espécie de família muito vasta, mas que sempre que precisamos de uma referência a qual recorramos. Isto demonstra que há uma comunidade internacional que se manifesta nestas pequenas coisas, mas que faz sentir integrada numa rede que é muito mais vasta do que cada uma dos nossos países e que faz que que possamos também transitar entre os vários países e dar a conhecer a nossa música.
Angelina: Deixa-nos falar ainda sobre o teu novo álbum „Live in Oslo“ com o pianista de jazz Filipe Raposo. Nesse álbum a tua voz demonstra uma grande variabilidade de teu canto. Tu interpretas clássicos de Jazz como „My Favourite Things“ e „Moon River“ como também músicas tradicionais portuguesas como „Senhora do Almortão“ e „o Bento Airoso“. Tu cantas em inglês, português, espanhol e francês. Interessa-me saber como é que tu escolhes as canções que vais interpretar? Quais são os motivos para experimentares a tua música nessa seleção de canções?
Rita: Acho que este disco em específico é um fenómeno muito interessante que tem a ver com a relação que eu e o Filipe temos entre nós. Um ponto de reunião entre mim e o Filipe é esta notação que nos completamos musicalmente numa série de estéticas completamente distintas e que isto faz parte integrante da forma como nós sentimos também a musicalidade. Este álbum que consideramos como álbum 0 – o número 0 desta aventura que queremos iniciar que se chama “the artive song” e para qual já temos ideias para mais 10 discos – vai se materializar no disco numero 1 em maio 2020 e será no fundo um olhar mais focado como seja uma lupa sobre cada um destes tesouros musicais que nós fomos encontrando e com os quais nos identificamos profundamente. E nessa altura que acontece em que estamos ainda muito no início da nossa relação musical nós partilhamos uma série de influências diferentes um com o outro nos quais nos revíamos os dois, e algumas foram descobertas para mim também que abracei e isso devia ter acontecido também com o Filipe – portanto isso não teria feito sentido para nós reduzir o espetro estético daquilo que queríamos fazer só para encaixar em qualquer tipo de nomenclatura. Por isso decidimos de abraçar tudo isso e fazer um pot-pourri daquilo que eram as nossas influências e acabamos por fazer este concerto e gostamos tanto do resultado que editamos em disco. O que sinto é que nós estamos a ser muito fiéis àquilo que são as nossas influências e como nos completamos – o Filipe está muito ligado ao cinema, ele escreve bandas sonoras, ele trabalha com teatro, faz música ao vivo na cinemateca, é pianista da cinemateca há 10 anos e faz músicas para filmes mudos. O mundo do cinema para ele era uma coisa inevitável e incontornável e para mim também porque no jazz há muito do cancioneiro norte-americano que foi aproveitado pelos músicos jazz e que tem a ver tanto com os musicais do Hollywood tanto como dos próprios filmes. Portanto “My Favourite Things” e “Moon River” são exemplos disso e temos o “Smile” que também é outro exemplo disso. Tudo isto tem influências super-determinantes de épocas também relacionadas com o cinema e por isso este disco foi um pouco a alavanca para o que vinha a seguir que nós queremos que dure até ao resto da nossa vida.
Angelina: Quais são as reações em Portugal quanto à nova interpretação da música tradicional com elementos de jazz? “A Senhora do Almortão” já foi interpretada por vários artistas diferentes, mas em forma jazz se calhar tu, com a tua interpretação, és a primeira. Qual é a reação de pessoas talvez mais ligadas ao tradicional a ouvirem essas interpretações diferentes?
Acho que as reações são múltiplas, muito variadas. Nós como não enveredamos só por uma temática, as pessoas demoram algum tempo a ouvir a informação inteira. De repente, estamos a fazer Fauré, passamos para um tema de Charlie Chaplin como “Smile”, a seguir fazemo-nos “A Senhora do Almortão” e “O Bento airoso” – portanto isto tem um lado de novidade muito grande associado a esta fusão que nós cremos fazer e, ao mesmo tempo, a receção tem sido bastante positiva. O Filipe gosta muito de trabalhar com as suas raízes tradicionais e nós queremos explorar o cancioneiro tradicional já com esta influência do que é, para nós, a música na atualidade. Revestimos harmonicamente a música com outras cores, estimulamos – e acho que há a audição daqueles temas que toda gente já conhece – com uma nova abordagem. Tentar de ter um novo estímulo para o ouvido – ok já ouvi a “Senhora do Almortão” 50 mil vezes em 50 diferentes versões – mas se calhar com esta roupagem ainda não a tinha ouvido. E isto desperta uma outra vez como se nós voltássemos a nos apaixonar pela mesma música que já ouvimos 50 vezes. E eu acho que isso é muito bonito, esta ideia de reapaixonar-nos pelas coisas que continuam a ser uma referência muito importante para nós. E no caso da música folclórica, é isso que nós pretendemos, é aproximar as pessoas da música tradicional, mas assumindo também em que, entretanto, a música evoluiu. A história da música foi-se fazendo novas descobertas, novas abordagens e é o que se situa agora e que não significa que tenhamos de excluir o que é o nosso lugar, a nossa tradição, que durante tempo para todos nós foi um pouco ocultado.
Angelina: E quais são os teus novos projetos que tens planeado para a frente fora do disco “Círculo” que foi lançado esta semana?
Rita: O disco que acabou de sair (“Círculo”) estará dentro do espetro de jazz contemporâneo. Sendo assim, acho que ainda é muito acessível mesmo a um público que não será publico de jazz. A ideia é que será uma piscina de experimentalismo, também mais melódica e que também traduz, neste caso, também como este trio – que é constituído por mim, o Luis Figueiredo, que é um pianista e compositor, e o Mário Franco que é contrabaixista e compositor e também bailarino da companhia nacional de bailar. Ou seja são três abordagens completamente diferentes e a ideia era criar um coletivo, dissolver a ideia da liderança e criar um coletivo da música dos três, em que os arranjos também fossem concebidos pelos três e que desse a uma certa unidade mas que permitisse sempre a exploração tímbrica, e a brincadeira sonora através do experimentalismo e da improvisação, obviamente. Então “Círculo” é, digamos, a este espaço. Entretanto constituímos uma editora através da qual vamos lançar o disco. Também é uma nova aventura para mim. Eu gosto também muito deste lado de construir novas coisas e sinto-me muito realizada, quando consigo de construir coisas que não sirvam só a mim. Acho que a editora pode ser uma plataforma para depois também no futuro editar outros artistas, ganhar um espaço de visibilidade diferente. Como a editora é feita por músicos e não por gentes comerciais cujos interesses comerciais não correspondem às necessidades dos músicos nem às próprias necessidades culturais, que limitam muito o tipo de música que é editada e que chega aos ouvidos de um público mais abrangente. Há mesmo a necessidade de quebrar com esta tirania das grandes indústrias discográficas, portanto é um projeto que eu abraço com um especial carinho. Depois a questão musical. Obviamente, nós temos repertório para fazer mais dois discos que não tivemos oportunidade para gravar ainda. Isto serão os novos capítulos de “Crculo´”. É essa a nossa perspetiva. Depois tenho o meu duo com o Filipe, que vai editar em maio de 2020 (lançamento em 5 de maio 2020 no Teatro São Luis). Vamos estriar esta forma de música autoral de música de jazz com o barroco. Vai ser esse o nosso tema deste primeiro volume. Temos projetos com o Estocolmo-Lisboa-Project. Também estamos a trabalhar para um novo disco e também tenho os meus projetos pessoais nos quais eu vou investindo, compondo e preparando que eu espero também que 2021 se possam realizar talvez num disco.
Angelina: É claro que esperamos que sempre também continues a passar por Hamburgo, um público como sentimos no último concerto que te adora.
Muito obrigada Rita pela entrevista.
Discografia:
2019 Rita Maria, Luís Figueiredo, Mário Franco: Círculo
2019 Rita Maria &Sayuri Shimada: Joy
2018: Rita Maria & Filipe Raposo: Live in Oslo